Fazem 6 dias que eu estou no Rio de Janeiro participando de uma grande competição para a televisão fechada, dividindo uma casa com diversos artistas, imitadores, atores, mágicos, contadores de piadas e tem sido a maior experiência artística e humana que já vivi. To tendo lições de humildade, compaixão e coleguismo como nunca experimentei antes, conhecendo gente batalhadora que lutou a vida inteira fazendo arte em cima do palco. Anos lapidando um personagem, acreditando em sua composição, as vezes gastando o único dinheiro que tem em mãos para comprar um sapato, um cinto específico, algo que vai enriquecer seu personagem não apenas visualmente, mas também ajuda a compor a presença de espírito da persona que ele está formando. Imitadores, contadores de piadas, atores, mágicos...HERÓIS de si mesmos, se salvam com o que tem e perseveram para ter cada vez mais, para fazer rir cada vez mais. Não importa se eu sou comediante alternativo e atuo numa cena underground, mais enxuta. Não importa se eu sou comediante popular e lido melhor com grandes multidões, todos nos olhamos no espelho no final do dia, cansados, esperançosos, as vezes triste, e muitas vezes sozinho, somos todos iguais. Nunca se desrespeita ou diminui um artista, ele com certeza entrega parte da alma dele para fazer aquilo ter vida quando ele está no palco sozinho ou com colegas em cena, nunca subestime a luta pessoal, o esforço que ele teve, independente se agrada seu gosto ou não, é um artista, é trabalho, é uma pessoa e ela tem sentimentos, tudo pode se resolver com uma conversa ou cada um indo pro seu lado, subindo no seu palco, tem espaço pra todo mundo. Se você faz e gosta, é porque algo no mundo te influenciou a fazer isso, e e você reproduzir a sua maneira, vai ter gente que vai gostar e outros serão influenciados sucessivamente. Não somos melhores, não somos piores, somos artistas, faça sua arte, ache seu público. Você se transforma, se monta, canta, dança ou escreve pidas num caderno...você acredita, você já venceu por acreditar, acredite. O que eu vejo aqui nessa casa, são pessoas que não importa seus estilos, todas tem expectativas, medos, sofrem, choram, se abraçam de alegria. Um dia uns perdem, um dia uns ganham, mas a fé se mantém inabalável. Eu acompanhei um artista ser eliminado, saí com ele do estúdio, eu o vi ficar com falta de ar, chorar, desacreditar, recuperar a calma, e dizer "Já foi" enquanto ele olhava para o horizonte e eu conseguia ouvir a respiração dele voltar ao normal, o choro se dissipar e sua fé se manteve inabalável, hoje ele tá aqui na casa sorrindo e torcendo pelos colegas... e isso é uma das coisas mais lindas que eu já vi.
Eu acreditava apenas em um estilo de comédia como forma de arte, eu estava errado, nunca estive tão feliz e realizado, foi e está sendo um dos episódios mais importantes da minha vida. Se você sobe num palco pra tentar fazer alguém rir, não importa como, você já está abdicando parte de si mesmo para os outros, não importa o quanto você goste de fazer, o público está ali, não seja egoísta, essa experiência não é só sua, você não está sozinho, a Comédia é pra quem quiser rir e fazer rir.
ps: o menino de blazer na foto é Caciano Kuffel, meu amigo mágico e humorista aqui da casa, um figura, nesse dia foi aniversário dele e da maquiadora.